quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

36 anos depois...


Por Wagner Luiz Serpa

E ele estava ali, sentado no chão da sala sobre as almofadas. O jovem menino há dias ansiava por aquele momento tão esperado. Passara a semana inteira falando no tal jogo. O horário já era bem avançado pra sua idade, o que seria capaz de lhe provocar os primeiros bocejos. Mas não. Dormir definitivamente não estava nos seus planos. A pequena televisão de tubo ligada sobre a mesa servia-lhe como autêntica sessão de hipnose. Naquele modesto apartamento no bairro de Botafogo, era ele e sua mãe. Mais ninguém.

E sem se dar conta, o moleque estava prestes a presenciar um fato histórico, inesquecível pra qualquer rubro-negro. Do outro lado do planeta, um time de futebol que entrou em campo, encantou o mundo e se sagrou campeão. Mas não era um time qualquer não. Era o Flamengo. De Zico, de Leandro, de Júnior e de todos nós. E a paixão do garoto era mesmo esse tal Flamengo, aquele clube que, desde muito novo, já lhe arrancava os mais profundos sentimentos. Na época ele nem sabia o porquê, só sabia que seria pra sempre. 

Esse menino era eu e o dia, 13 de dezembro de 1981, há 36 anos. Mas, lamentavelmente, com a noite de ontem a semelhança ficou apenas no calendário.

Inevitável, mas houve a noite de ontem. Poderia não ter havido. E por falar nela, afirmo que o último jogo do ano talvez tenha servido para retratar exatamente quem foi o Flamengo em 2017. Foi o Flamengo da desorganização, o Flamengo da correria e o Flamengo da bola aérea. Basicamente isso. Inspiração zero e planejamento, se houve, não deu pra notar.

Na noite de ontem, de fato, tudo poderia ter sido bem diferente. A começar pela balbúrdia e selvageria, que na verdade se iniciou na véspera e se prolongou até horas depois do embate. O Flamengo e sua torcida perderam dentro e fora de campo, respectivamente. Esse é o resumo da ópera. Já passou da hora de torcedor de futebol entender que lugar de ganhar jogo é na grama e na arquibancada. Ponto.

Falando da partida em si, a que rolou entre as quatro linhas, essa também poderia ter sido diferente. Imaginem só se o Everton marcasse aquele gol, cara a cara, daqueles que não se pode perder nem no campeonato do colégio? Ou se o Paquetá tivesse convertido aquela primeira chance que teve também no início? E se o Rever tivesse estufado a rede aos 47 do segundo tempo? Com 'cerveja' que o viés da nossa prosa seria outro, pelo menos quando o papo for futebol propriamente dito. Mas vamos combinar? Qualquer outro resultado que ocorresse a favor dos donos da casa seria por pura obra do acaso, pois o Flamengo não jogou futebol suficiente pra vencer o Independiente em nenhum dos dois jogos.

Por falar em Independiente, lembrai-vos que a equipe deles custou 170 milhões de reais a menos que a do Fla. Só 170. Uma diferença marcante quando o assunto é investimento em jogadores. Aliás, uma diferença marcante quando o assunto é qualquer um. No entanto, à revelia de todo o dinheiro gasto com elenco, existe algo que o Flamengo não consegue determinar ou encontrar há algum tempo: padrão de jogo. Não há treinador nacional ou estrangeiro que dê jeito nisso.

Verdade é que a dor é grande, mas vai passar. O ano não foi dos melhores, mas nem tudo foi em vão. Ou pelo menos espero que não, pois vai depender das atitudes de nossos dirigentes daqui pra frente e de que forma eles vão abordar toda essa derrocada.

Explicações poderiam ser muitas, mas nada além de tudo que já foi dito por aqui durante todo o ano. Agora é deixar a poeira assentar e iniciar, desde ontem, o planejamento para o ano que vem.

2018 já tá aí piscando farol.


SRN. E não é pouco não.


Leia também em: http://www.flaresenha.com/2017/12/36-anos-depois.html


Nenhum comentário:

Postar um comentário