terça-feira, 13 de outubro de 2020

Vitória no modo Flamengo


Por Wagner Luiz Serpa

E a maratona insana de jogos do Flamengo teve mais um capítulo esta noite no Maracanã. Confronto adiado da 11ª rodada, hoje foi contra o último colocado do torneio, o Goiás Esporte Clube, o desafio de superar todo o desgaste inerente aos embates de alto rendimento.

O Fla veio a campo organizado no nostálgico e romântico 4x3x3, com o meio de campo composto com apenas um volante de contenção e dois meias de armação. Willian Arão, Thiago Maia e Gérson, nessa ordem. Esse é o formato peculiar do estilo ‘posicional’ de se jogar futebol.

Um começo de jogo adormecido por parte dos donos da casa. No modo ‘desligadão’, mesmo tentando alugar o campo do adversário, muitos espaços em suas costas eram apresentados para o Esmeraldino.

Tanto que logo aos 12 minutos os visitantes abriram o placar, após nova falha de marcação do lateral direito Matheuzinho. O garoto é bom no apoio ao ataque, mas não é de hoje que deixa a desejar no posicionamento defensivo. Dessa vez, só observou o atacante Vinícius finalizar com estilo dentro da área.

O placar era adverso, mas só dava Flamengo. À imagem e semelhança dos melhores treinos de ataque contra defesa, realizados no Ninho do Urubu, o time criava uma chance após a outra. Pelos flancos, pelo corredor central, por baixo, pelo alto. Às vezes esbarrava no elástico goleiro Tadeu, outras na má pontaria dos rubro-negros.

O tal do jogo posicional, conceito que Torrent tenta implantar desde que chegou no Mais Querido, é um estilo extremamente complexo e definitivamente não é do dia pra noite que os jogadores vão absorver as ideias e entender o seu formato. Os times que jogam dessa maneira, além de ter fome pela posse de bola e pela marcação muito adiantada, treinam exaustivamente a ocupação de espaços à sua retaguarda para não serem surpreendidos nos contra-ataques.

A questão é que o Flamengo de hoje ainda não tem o jogo posicional na massa do seu sangue, entranhado na sua ‘alma’. Não tem. Costuma ter mais posse de bola e subir bem a marcação, mas ainda não consegue ocupar os espaços do jeito que manda a cartilha de Pep Guardiola. Sim, Guardiola e Domènec pensam futebol rigorosamente da mesma forma. Pensamento e prática são duas coisas bem diferentes.

Em função disso, o Flamengo ainda é muito vulnerável defensivamente e tem sofrido muitos gols em contragolpes.

Aos 38 minutos, não teve jeito. O atacante Pedro, sempre bem colocado, escorou cruzamento da esquerda de Bruno Henrique e empatou a partida. De 1º tempo foi o que deu.

Na 2ª etapa o cenário prosseguia. O Flamengo sufocando, amassando o Goiás. Era um passeio de posse de bola, de criação, de chutes a gol e de chances perdidas. Mas não tinha prece que colocasse aquela bola pra dentro.

Aos 75 minutos, Domènec finalmente mexeu na equipe, trocou o meia Gérson pelo atacante Lincoln. Não vi sentido na troca, acho que ninguém viu, já que tínhamos o ‘ponta-direita’ Michael em noite nada inspirada, errando tudo. Sem falar nas outras quatro alterações que o treinador se furtou em fazer.

E quando tudo já parecia caminhar para um frustrante empate, nos acréscimos, aos 95 minutos e meio, um chute torto e despretensioso pra dentro da área de Willian Arão e a bola cai nos pés de Pedro, que fuzilou pras redes fazendo o segundo gol. Pedro, sempre Pedro.

Desfalques, cansaço, buracos defensivos, previsibilidade, substituições equivocadas, falta de visão tática do treinador. Esse foi o Flamengo de hoje. No final, na qualidade individual, veio o respiro de alívio.

E a ‘caça’ ao líder continua, enquanto esperamos ter nosso elenco completo de volta. Como já falei por aqui, estão fazendo falta.

Mais uma vitória de virada, mas dessa vez foi com emoção, foi no modo Flamengo.

SRN.

Instagram: @wagnerluizserpa

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